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  • Foto do escritorEnzo Jurkas

Intoxicações em gatos: identificando e prevenindo

Atualizado: 14 de abr.

Todo dono de gato sabe que, assim como existem os felinos tranquilos e quietos, existem aqueles que são bastante curiosos e arteiros. Independente da personalidade do seu animal, é importante sempre ficar atento às mudanças de comportamento dele, visto que essa observação pode ajudar muito na identificação de problemas, por exemplo, detectando uma intoxicação




Essa alteração de comportamento apresentado pelo animal pode ser manifestação de sinais prejudiciais aos animais, causados pela interação entre o agente tóxico e o animal. É comum que ocorram intoxicações em casa, devido à ingestão ou ao contato com substâncias que são tóxicas para os felinos, como algumas plantas, medicamentos ou alimentos. Mas o que pode causar intoxicação?


Alimentos

Dos alimentos que os felinos podem ter acesso, os mais comuns são a cebola e o alho, que possuem componentes facilmente absorvidos pelo trato gastrointestinal e transformados em substâncias capazes de alterar a hemoglobina, que é um componente da célula sanguínea (ou hemácia), o que promove uma menor oxigenação nos tecidos. Felinos são mais propensos a esse efeito tóxico devido a algumas características na fisiologia desta espécie animal, como essa alteração na hemácia, bem como menor capacidade do baço em "filtrar" essas hemácias danificadas.

É importante ressaltar que tanto a cebola quanto o alho mesmo cozidos apresentam efeito tóxico (mesmo que menor)! Portanto, o oferecimento de ração própria para seu animal ou outra dieta prescrita por um nutricionista veterinário impede que essa intoxicação ocorra.


Produtos de limpeza

Vários são os produtos de limpeza (também denominados domissanitários) que podem promover intoxicação no seu gato. Os felinos são bastante sensíveis a intoxicações por desinfetantes com cresol (popularmente denominada de “creolina”) devido à sua limitada capacidade de ação de uma enzima, denominada de glicuroniltransferase, que atua no fígado, e permite a eliminação de substâncias. Essa característica dos felinos faz com que o contato, seja atravessando a pele machucada, ou mesmo a ingestão de uma pequena quantidade deste produto promova efeitos tóxicos no sistema nervoso central e oxidação da hemoglobina

Assim, ao higienizar um ambiente, manter o felino afastado do local por um período pode evitar que ocorra uma intoxicação, impedindo assim que o animal entre em contato e ingira o produto ao se lamber.


Venenos

O “chumbinho” é o nome popular de alguns praguicidas como os carbamatos e organofosforados, que primariamente têm agrícola. No entanto, esses produtos podem ser comercializados ilegalmente na forma de grânulos pretos, e usados como raticidas. Essas, atuam no sistema nervoso central, causando, portanto, sinais de alterações neurológicas principalmente.

Assim, não empregar esses raticidas ilegais auxiliar no esclarecimento de que o uso destes praguicidas são ilegais e a intoxicação normalmente leva o animal a óbito, já que o tratamento na maioria das vezes é ineficaz, pois os efeitos tóxicos aparecem rapidamente, sem muito tempo para que o veterinário possa usar a medicação adequada.


Plantas

A intoxicação por Dieffenbachia seguine (comigo-ninguém-pode), ocorre devido a presença de substâncias que geram irritação da mucosa do estômago e causando gastrite e, muitas vezes edema de glote, o que pode levar o animal a óbito.

Já na intoxicação causada por Aloe vera (babosa), por ser rica em algumas toxinas as quais podem ser responsáveis por causar um quadro agudo de hepatite.

O lírio (gêneros Lilium e Hemerocallis), cujo(s) o(s) princípio(s) ativo(s) tóxico(s) ainda é (são) desconhecido(s) e, consequentemente, também não se sabe ao certo como agem no organismo do pet. Quantidades pequenas como duas folhas ou pétalas já podem promover o quadro de intoxicação, levando a um quadro de insuficiência renal aguda, causando enjôo, urina com sangue, vômitos, desidratação e apatia.

Assim, evitar que o animal tenha acesso a plantas das quais o tutor não tem certeza se podem ser tóxicas ou não, diminui a chance do animal ingerir e se intoxicar.


Medicamentos

O paracetamol é totalmente contraindicado para gatos, pois eles apresentam deficiência em enzimas hepáticas, o que favorece a transformação em substâncias tóxicas, podendo levar à necrose do fígado, além de ser capazes de alterar a hemoglobina (componente da célula sanguínea), promovendo uma menor oxigenação nos tecidos. Em geral, os gatos têm uma baixa tolerância aos anti-inflamatórios não esteroidais, como diclofenaco de sódio e ibuprofeno, e como toxicidade, os animais normalmente manifestam sinais de alterações gastrointestinais, renais e inibição da agregação plaquetária, o que pode causar hemorragias.

Assim, de maneira geral, o emprego de medicamentos nos animais deve ter orientação do médico veterinário, particularmente em felinos isso é fundamental, uma vez que devido a algumas características na fisiologia desta espécie animal, eles são bem mais suscetíveis à intoxicação medicamentosa.


Como identificar a intoxicação?

Em um primeiro momento, é importante observar se o animal apresenta uma mudança repentina de comportamento. Além disso, o gato pode apresentar sintomas como:

  • salivação excessiva;

  • vômitos;

  • diarreia;

  • apatia;

  • falta de apetite;

  • dilatação ou contração das pupilas;

  • convulsões ou incoordenação, mudança de comportamento.


É de suma importância que o tutor leve o animal ao médico veterinário o quanto antes e, se possível, que informe qual foi o produto ou substância ingerida para que a conduta escolhida seja a mais adequada ao caso.

Outro ponto muito importante a ser lembrado é que, a menos que um médico veterinário tenha orientado, o tutor não deve tentar induzir o animal ao vômito ou qualquer outro tipo de procedimento objetivando a desintoxicação caseira, visto que isso pode piorar o prognóstico, ou seja, a evolução do quadro. Muitas vezes, o médico veterinário pode realizar as primeiras orientações via telefônica, que permite o atendimento profissional presencial mais adequado.



O que fazer em caso de intoxicação?

Para saber mais sobre o que fazer em suspeita de intoxicação no seu pet, clique aqui.

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Referências

CATOZO, Raquel Gomes et al. Intoxicação em gatos atendidos em um hospital veterinário universitário da cidade de São Paulo: análise retrospectiva de 2010 a 2021. Revista de Educação Continuada em Medicina Veterinária e Zootecnia do CRMV-SP, v. 20, n. 1, 2022.


DORIGON, Otávia et al. Intoxicação por paracetamol em gatos. Revista de Ciências Agroveterinárias, v. 12, n. 1, p. 88-93, 2013.


WALLER, Stefanie Bressan; CLEFF, Marlete Brum; DE MELLO, João Roberto Braga. INTOXICAÇÃO EM CÃES E GATOS POR ALIMENTOS HUMANOS: O QUE NÃO FORNECER AOS ANIMAIS?. REVISTA VETERINÁRIA EM FOCO, v. 11, n. 1, 2013.


XAVIER, Fabiana Galtarossa; RIGHI, Dario Abbud; SPINOSA, Helenice de Souza. Toxicologia do praguicida aldicarb (" chumbinho"): aspectos gerais, clínicos e terapêuticos em cães e gatos. Ciência Rural, v. 37, p. 1206-1211, 2007.


JARDIM, M.P.B.; FARIAS, L.F.; CID, G.C.; SOUZA, H.J.M. Poisoning in domestic cats in Brazil: toxicants, clinical signs, and therapeutic approaches. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 73 (1), p 99-107, 2021.


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